Precisamos falar do Cruzeiro. Mas antes, gostaria de contar um episódio
que aconteceu comigo, no time de amigos em que jogo. O time é administrado por
uma diretoria eleita para mandatos de dois anos. Um amigo e eu fomos candidatos
nas eleições que ocorreram recentemente, por não concordar com muitas coisas da
atual diretoria. Mas dois dos membros da situação se recandidataram e foram
eleitos, valendo-se de manobras, porém pautadas pelo estatuto e apoiadas por
alguns sócios. Nos tornamos, então, oposição. E qual é o papel dos sócios,
especialmente de oposição? Um dos mais importantes é fiscalizar.
Quem tem o controle nas mãos pode tomar decisões que nem sempre são
corretas ou adequadas para a agremiação, mas são convenientes para si mesmo. Ou
vantajosas. Isso vale em qualquer lugar e política é política desde que o mundo
é o mundo. Infelizmente, existem coisas que vão muito além de paixões. Uma
delas é a vaidade. Outra, a ambição. Aconteceu aqui no time de bairro, de
amigos. Imagina se acontece(sse) em um time grande profissional? Um time da série
A? Acho que todos fomos surpreendidos com as denúncias contra a atual diretoria
do Cruzeiro né? Mas, ao mesmo tempo, imagino que ninguém está surpreso. Este,
pelo menos, é o meu sentimento. Surpreendido, porém não surpreso.
O futebol é sujo. Certa vez, um tio da minha mãe que trabalhava no meio
do futebol me disse: “Se você soubesse o que acontece lá dentro, não gastaria
mais dinheiro com isso.” Parece até aquela velha fake News “Se as pessoas
soubessem o que aconteceu no partido tal, ficariam enojadas”. Mas é isso, nojo
define. Nojo, tristeza, vergonha, medo... Ver, em rede nacional de televisão,
nosso clube ser exposto dessa forma. Reclamamos que a mídia do eixo Rio-SP não
nos dá audiência, mas não é assim que queremos ver o Cruzeirão Cabuloso na TV.
Muito melhor ver o Henrique levantando a taça da Copa do Brasil, ou o Fábio
sendo o primeiro goleiro da história a pedir música no Fantástico. Sim, foi com
essa diretoria que ganhamos as últimas duas Copas do Brasil. A mesma agora
investigada sob acusações gravíssimas. Será este mesmo o preço a se pagar?
Sempre elogiei muito a histórica postura do Cruzeiro, mais “pé no chão”
com inteligência e responsabilidade na gestão financeira. Usava inclusive, com
orgulho, o argumento de sermos um dos clubes brasileiros com a menor dívida.
Agora, com aproximadamente meio bilhão de reais em débitos, encostamos no topo
dos devedores, exatamente junto com Atlético-MG, a quem sempre critiquei sob
essa ótica. Mas não é o aumento calamitoso da nossa dívida – atribuída por muitos
à gestão anterior – que me preocupa, envergonha e revolta tanto. O pior é ver
quem chegou falando em salvar um clube “na pior crise financeira da sua
história” pagando supersalários a si mesmos. Além das premiações absurdas e
ajustes (assinados pelos próprios) que podem ser motivação para arriscar a
qualquer preço para receber– especialmente o que não é seu e não precisará
pagar depois. É um mecanismo. E desde a manobra fiscal com a venda do
Arrascaeta que eu já não confio em quem o controla.
Vi torcedores tentando minimizar as acusações dizendo que “todos os
clubes têm coisa errada” e que é coisa da “imprensa atleticana”. Não! É o nosso
Cruzeiro. Foi nossa camisa que foi exposta, não foi de mais ninguém. A vergonha
é minha, é sua é nossa. Tem gente também culpando o suposto conselheiro da
oposição que vazou os documentos e informações. “Ele não é cruzeirense!”, estão
dizendo. Acho que, nessa história de gente aumentando o próprio salário e
faturando alto com o nosso Cruzeiro, o mais cruzeirense ali é este corajoso
conselheiro. Eu faria o mesmo se tivesse lá, pois más gestões ruem
instituições. Olho para o Ipatinga, vejo o que tá aí e temo pelo meu Cruzeiro.
Equipe CruzeiroVQTTV
Por: Tarcísio Dias



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