Não é fácil ser torcedor. Longe disso. Para aqueles apaixonados extremos, os verdadeiros fanáticos, é terrível, ainda mais quando seu time está em má fase, ou em um jogo difícil. O nervosismo toma conta. Frio na barriga a cada vez que escuta o nome do seu time... De fato, não é fácil ser torcedor. Mas nem só de tristezas nós vivemos. Há também as alegrias, os alívios e as emoções. Mas o que foi, no coração tricolor, a Batalha dos Aflitos? Só quem vivenciou sabe. Hoje, completa 10 anos de uma partida inesperada. Mais do que isso, impossível. Ou, pelo menos, parecia. Uma mistura de emoções onde a vitória saiu à nosso favor.
Dois clubes e, possivelmente, uma vaga. Um precisando de apenas um empate, enquanto o outro da vitória. Um jogava fora e via o dono da casa com o estádio completamente lotado empurrando seu time. Um Bi campeão da Libertadores e campeão mundial quase falido, enquanto o outro não jogava a série A desde 1994. Esses eram os elementos para o jogo que definiria, em caso de um time vencedor, o campeão da Série B. Não que seja um título exaltado. Para um time grande, o título é praticamente obrigação, mas, com o decorrer da partida, foi se tornando inacreditável. Antes do início da partida, já havia tumulto. A equipe pernambucana impediu o Tricolor gaúcho de fazer o aquecimento no gramado e, propositalmente, pintara o vestiário com tinta a óleo, o que causou extrema irritação aos dirigentes. Mesmo com o atraso de 15 minutos o jogo começou com pressão total do time da casa. Já passara dos 34 minutos quando o zagueiro Domingos se atrapalhou e fez penalti no atacante Paulo Matos. A partir daí, Deus fardou a tricolor e entrou em campo para realizar um verdadeiro milagre. Na primeira cobrança de pênalti na partida, o jogador Bruno Carvalho mandou na trave, e o Grêmio foi para o vestiário com muita pressão sofrida e um milagre na conta.
Dizem que a Batalha dos Aflitos explica a seca de títulos. Dizem que Odone vendeu o time pro Diabo. Vendo o jogo, essa afirmação não seria tão mentirosa. Não há explicação para o que acontecia naquele estádio. A torcida do Náutico empolgada e o time fazendo bonito em campo. O Grêmio só sabia se denfender e o gol era questão de tempo. A classificação era tricolor, mas o merecimento não. O time retrancado do Técnico Mano Menezes parecia não ter poder, e enfraqueceria com a primeira expulsão. Aos 30 minutos, o lateral Escalona intercepta um passe com a mão e leva o segundo amarelo. Agora eram 11x10, sem contar o juiz, que estava claramente beneficiando o time da casa. A pressão não diminuia. O Naútico pressionava querendo o título e, quando tudo parecia se encaminhar para o melhor, acontece aquilo que seria lembrado pelo resto da vida. O volante Nunes acertou a bola com o cotovelo e o segundo penalti estava marcado. O descontrole foi geral. Patricio, o mais exaltado, chegou a peitar o Sr. Djalma Beltrami e foi o primeiro a ser expulso, seguido de Nunes e Domingos, este tirando a bola da mão do árbitro. A confusão estava formada. A polícia, os dirigente, os reservas gremistas e até os torcedores invadiram o campo para conter os jogadores. Muitas eram as ameaças de cancelamento do jogo, mas o meia Marcel só queria saber de cavar a marca da cal. Não havia o que fazer. Se o Grêmio desistisse ali, o campeão seria o Náutico. Se continuasse ali, só subiria com um milagres. Não havia mais o que fazer. Mano Menezes quis mostrar que o time do Grêmio não desistia e deixou o time em campo, mesmo sabendo da dificuldade que seria. Àquela altura eram 11x7 em campo, e ninguém mais acreditava. Ninguém além dos gremistas.
Fonte: Impedimento |
A bola havia saido para a linha de fundo e o Náutico tinha um escanteio ao seu favor. A defesa, como havia estado o jogo inteiro foi impecável e afastou a bola. Agora, o rosto do torcedor estava confuso. Não sabia direito o que havia acontecido e nem tinha como. Dois penais de vantagem não fizeram o Náutico passar a frente, então só faltava levar um gol. Na rebatida do escanteio, a bola sobrou para o Deus negro. Em forma de um garoto de 17 anos, Deus puxou um contra ataque em uma velocidade alucinante. Batata, que acabara sendo expulso e se tornando um dos personagens mais engraçados da história do Grêmio, citado em todas as expulsões em jogos posteriores pelo torcedor, até tentou parar, mas Deus estava conosco. A cobrança rápida desestabilizou a zaga pernambucana e, no pensamento de Anderson, Deus disse "Não dibro". Não existiam mais rostos tricolores que não chorassem. Nem o mais sério torcedor se conteve. Nem o maior secador do mundo conseguiu segurar o ímpeto de um garoto, que 10 anos depois viria a jogar no maior rival. Andershow, o Fórmula 1, foi o nome do gol que estava dando o título para o Grêmio. Talvez, um título que não deva ser comemorado agora, mas deve ser sempre exaltado.
Tal fato nao circulou apenas em jornais gaúchos e pernambucanos, assim como não marcou apenas torcedores do Náutico e do Grêmio. O cruzeirense Wagner topou nos descrever, em breve palavras, qual o sentimento naquele dia:é falar
"Bom, falar do Grêmio é falar de paixão, de raça, de emoção, de espirito de luta... Apesar de estar em Minas, reconheço que o Grêmio e sua torcida são especiais. Acompanhei futebol por muito tempo. Acompanhei grandes times, grandes jogadores, grandes vitórias, grades façanhas... Apesar de, teoricamente, eu ser jovem, já vi muitas coisas lindas desse esporte tão popular. Já vi o Bayern, vi o Manchester (United), quando foi campeão da Champions na prorrogação, já vi outros jogos como Cruzeiro e São Paulo, na final da Copa do Brasil de 2000, onde o Cruzeiro conseguiu virar o jogo faltando 15 minutos para acabar o jogo, tornando-se campeão... Várias outras partidas memoráveis, mas Náutico e Grêmio, no Estádio dos Aflitos, foi sensacional! Pela dramaticidade, pelos personagens, o Grêmio com 4 expulsos, o Náutico teve 2 pênaltis a favor, um parando na trave e outro com o Galatto defendendo, o Anderson fazendo gol... Um jogo improvável, inesquecível, onde tudo parecia ir contra o Grêmio. O Náutico era melhor, a arbitragem contra... O Grêmio era um time nervoso. Jogava fora de casa e precisava vencer pelo título. Eu já tinha dado o Grêmio como vencido. Ali parecia o final do túnel, porém sem luz, porque sem quatro jogadores é impossível correr contra 10 ou 11. Mas o Grêmio conseguiu. O Grêmio, que por sua história e tradição demonstrou raça, entrega, emoção, paixão, foi lá e conquistou o que era impossível para muitos, mas talvez não impossível para o torcedor gremista. Foi uma volta para a Série A que as vezes torcida e nem clube dá tanto carinho, mas existem acesso e vitórias épica. Aliás, uma vitória épica e esta, foi do Grêmio. Não foi apenas um acesso para a Série A, foi um simbolismo do que é o Grêmio. O Grêmio é lutador. O Grêmio não desiste nunca. O Grêmio conseguiu emocionar a sua torcida e todo o Brasil. Eu, que não sou gremista, fiquei emocionado. Nunca tinha visto nada parecido. Nunca tinha visto nenhum clube no mundo que conseguiu sair de uma situação tão adversa. O Grêmio tem minha admiração, meu respeito. O Grêmio pode estar passando por uma fase complicada. É difícil ficar sem títulos. Não ganhar, não conquistar... Mas o Grêmio é épico! Ele é IMORTAL! E, se preguntassem, qual o jogo do Grêmio que representa o que é "Ser Grêmio", sem dúvida nenhuma, escolheria a Batalha dos aflitos. Está marcado no coração!"
E para relembrar, deixo para vocês um vídeo do Bruno Ochoa ,lembrando os 71 segundos de glória!
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