Domingo será dia de Clássico na capital. As torcidas em polvorosa, os jogadores em ritmo de concentração, a imprensa correndo para um lado e para outro. No interior também tem Clássico, mas numa toada diferente, sem alarde, sem pressa, sem exageros, porque tudo isso faz mal ao sertanejo.
Primeiro vem o almoço com a família, porque, antes de tudo, vêm as coisas de Deus. Um franguinho caipira, com quiabo; arroz de forno, feijão tropeiro e uma cachacinha para abrir o apetite. Depois, uma caminhadinha pela praça da matriz, que é para fazer o quilo e colocar as conversas em dia. Daí sim, vai-se ao grande clássico.
O jogo é pela televisão e a reunião em um dos barezinhos da cidade. Não há torcida única ou demarcação de território. Sentam-se todos juntos pelas mesas espelhadas. Um, mais apressado, levanta a mão e chama o garçom; pede uma cerveja e o papo começa. Os palpites são muitos e os resultados vários. A balbúrdia é intensa, mas se finda com o apito inicial.
Jogo tenso, intenso. Os torcedores com o coração acelerado e garrafa passando de mão em mão. O tira-gosto do lado, que é para não faltarem as forças. Os gols saem rápidos, rasteiros, empolgantes. Não tem brigas, apenas provocações, gozações, gritos de gol. A polícia passa, apenas para garantir a ordem; a ambulância desce a rua, sem correria, sem sirene, numa ronda rotineira. O tempo voa e a vida passa.
Finda-se o clássico. Não há vencedores nem vencidos, apenas a impressão de que aquele foi um jogo bom, como os clássicos de outras épocas. Um pequeno grupo se reúne junto à porta, para fazer a resenha final; conversam alto, alterados pela loirinha, enquanto outros seguem para casa. Ainda tem a missa; o jantar e, depois, dormir, porque não é todo dia que a cidade passa por tanta badalação.
Elismar Santos
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