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terça-feira, 7 de maio de 2019

Um olhar sobre a Base no Brasil


O sonho de ser jogador talvez pelo status, fama, dinheiro, proporcionar uma vida melhor para a família, ou pelo fato de amar futebol faz milhares de meninos deixarem suas casas, mudar de Estados ou até mesmo de País, passarem a morar em alojamentos com desconhecidos  - talvez futuros amigos - , precisando formar uma nova família para permanecer e fazer o caminho ser mais fácil.

Os desafios são imensos, um novo olhar do mundo, novo convívio, novas instalações nem sempre adequadas, impossível não se lembrar da tragédia ocorrida neste ano (2019) nas categorias de base do Flamengo, dez vidas perdidas, dez sonhos cancelados, dez famílias desesperadas que viram os filhos saindo de casa na felicidade de um começo de sonho realizado... no caminho essas famílias e esses meninos encontraram as chamas que ruíram suas vidas e esperanças.

O trabalho de formação desses pequenos atletas começa desde muito cedo, alguns encaminhados por uma escolinha de futebol, outros por indicação de olheiros, enfim...  a importância das categorias de base é enorme, e durante todo o processo de desenvolvimento desses meninos requer muito de suas capacidades tanto motoras quanto cognitivas, físicas, mentais e emocionais. Muitos ficam pelo caminho, talvez por falta de talento, indicação, entre outros fatores  – ou por vezes apenas pela falta de um bom “empresário” (sim, há os bons; mas muitas vezes apenas algumas pessoas que querem sugar tudo e mais um pouco dos sonhos desses meninos e de suas famílias, com contratos leoninos onde apenas eles e os clubes ganham).

Infelizmente , o Brasil é um país onde a base não tem valor algum, e é muito maltratada. Dirigentes só se lembram que os meninos existem na hora do aperto. Temos diversos exemplos em nossa história, massss... a memória destes mesmos dirigentes – que se preocupam cada dia mais em “jogar para a torcida” do que cuidar do mais precioso investimento que qualquer clube tem, que são suas “jóias” – convenientemente se “esquece” disso.
Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Santos FC


Quem não se lembra do Santos com os “Meninos da Vila” de 2002? Diego, Robinho, Renato, Elano... foi campeão brasileiro aquele ano, dando show com as pedaladas de Robinho e aquele  time de moleques encantou o país! Revelou vários jogadores para a seleção brasileira! História bonita, certo? Pois é! O que poucos sabem no entanto, é que aquele time poderia nunca ter existido! Ocorre que o Santos não tinha  dinheiro à época para contratações, e quando Emerson Leão chegou à Vila Belmiro foi dito isso à ele. Ele deu uma olhada com o responsável  pela base (Pepe, ex companheiro de Pelé e que cuida dos meninos como poucos fazem no país), e viu que tinha um manancial absurdo de talento ali. E BANCOU os garotos. Nada de sair apostando em jogadores em fim de carreira, medalhões “a prestação”, nada disso; montou aquele timaço só com a garotada, e o time colheu os frutos. E o que dizer do Grêmio, que desde 2016 vem novamente colecionando títulos? Ganhou o tri da Libertadores, a Copa do Brasil, a Recopa ...mas anos antes, passando apertos por dívidas causadas por contratações como Kléber Gladiador e outros medalhões, o time se encontrava com dificuldades financeiras absurdas. Por causa disso – mais uma vez o aperto foi o fator determinante - , subiram vários jogadores talentosíssimos, como Ramiro, Arthur, Luan... e no caso do Grêmio parecem ter aprendido – hoje em dia tem o talentoso Éverton “Cebolinha” como exemplo, lançado há pouco tempo - .
Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

Infelizmente, há times que ainda insistem em viver na “contramão”; o caso do Palmeiras é o mais gritante: com um patrocínio milionário, segue comprando jogadores estrelados o tempo todo; consequentemente, não há espaço suficiente para seus jogadores jovens! A última revelação foi Rafael Papagaio, que, sem espaço/ chances no time profissional, não permaneceu no clube, tendo sido emprestado ao GALO. Hoje em dia, amarga o posto de 2º reserva de Ricardo Oliveira. E isso, mesmo sendo atacante da seleção sub-20! Cabe perfeitamente perguntar: Gabriel Jesus, atacante do Manchester City e da seleção brasileira, campeão pelo Palmeiras do brasileiro/2016, que encantou os olhos do técnico Pep Guardiola a ponto do clube inglês gastar uma pequena fortuna para levá-lo para a Inglaterra: teria conseguido chances no alviverde paulista se o clube JÁ estivesse estável financeiramente como hoje? Ou seria mais um Rafael Papagaio?


Ainda temos o caso do Atlético: O GALO tem em sua base muitos bons jogadores, como Bruninho (observado por pelo menos 5 grandes clubes europeus); o centroavante Alerrandro (vice artilheiro do Campeonato Mineiro deste ano, também já com sondagens de times de fora), entre outros. No entanto, não recebem chances. E no caso do GALO, ainda há o problema da torcida, que insiste em “queimar” jogadores de base pela falta de paciência (o que acaba “legitimando” a postura das diretorias e comissões técnicas em não colocar os garotos) – ok, isso também ocorre em outros clubes, mas no caso do Atlético chega a ser gritante. Empresários simplesmente tentam “arrancar” jogadores do clube de qualquer jeito, tentam impedir renovações de contrato, pois sabem que a pior fase para seus agenciados é justamente quando estão no sub-20: a dificuldade de conseguirem um lugar na equipe principal é absurda. A possibilidade maior é serem emprestados “Ad infinitum” para clubes menores do Brasil. 


Ainda, uma outra curiosidade: na  atualidade está cada vez mais difícil um clube ter 100% de jogadores formados por suas categorias de base, talvez o clube mais próximo dessa estatística seja o Manchester City com um grande investimento para criar o maior centro de treinamento de categorias de base na Europa com projeto em longo prazo segundo o seu Presidente (Khaldoon Al Mibarak) tendo o objetivo de o clube se tornar formador e não mais comprador nas próximas décadas, recrutando jovens jogadores pelo mundo.

No Brasil, muitos clubes  não conseguem ter o percentual total dos  jogadores que formam, pois estes servem de garantia às enormes dívidas contraídas pelas instituições de futebol. É muito comum em um clube, este pegar dinheiro emprestado e dar como garantia uma percentagem dos direitos econômicos de jovens da sua base no caso de uma venda futura. Em muitos casos, o credor possui mais dos direitos econômicos do que o próprio clube.

Os sonhos desses garotos acabam por ser pressionados quando a cultura é avaliar o que vemos no jogo, só o resultado, a torcida cobra por eles e a transição de jogadores está sempre em movimento, sendo mais fácil agradar com nomes reconhecidos no mercado; como já exemplificamos acima, a categoria de base do clube tende a ser mais lembrada quando o clube está em dificuldade financeira e não pode assim comprar jogadores de renome; porém vale lembrar que esta dificuldade financeira também se estabelece nas categorias de base, já que muitas vezes um atleta fica dez anos no clube e quando chega à idade de se profissionalizar é vendido, indo para outro clube todo o investimento feito nesse jogador – pois sai barato comparando ao que irá render tecnicamente e inclusive em uma futura venda já na outra agremiação.

Enfim, os obstáculos são grandes, as pedras nos caminhos desses garotos são maiores do que pensam quando deixam seus lares em busca de um objetivo, Que o futebol brasileiro compreenda a importância dos garotos para seus times, com maior valorização, maior cuidado,  porque estamos lidando com sonhos, esperança, vidas, realizações, desejos e quem sabe conquistas – para eles e para os clubes – com possibilidades de  novos talentos surgirem para abrilhantarem nosso futebol. Sem depender de gastos absurdos com jogadores que já não rendem o devido e jogam apenas com o nome. Por favor, vamos ter mais carinho com nossos meninos no Brasil. Eles merecem. Nosso futebol merece.

Gostaríamos de saber sua opinião; e aí, o que pensa a respeito? Concorda conosco? Discorda? A SUA opinião é CRUCIAL para nosso desenvolvimento e melhoria! Participe sempre conosco, compartilhe o texto, dê aquela “moral” nos comentários!  No mais, um grande abraço a todos!!!

Por: Renato Mello e Sabrina Civolani

       Twitter: @mellorenato / @AtleticoVQTTV / @ArquibancadadoGalo
      
        Twitter: @sagreenland


Um comentário:

  1. Parabéns Sabrina e Renato pelo excelente texto. Texto muito didático de como é e como funciona as categorias de base. No Brasil muito mal utilizada; onde quase sempre é usada como um plano "B"; sem o menor planejamento por parte dos dirigentes. Na minha opinião todos os times daqui usam muito mal a molecada; alguns times apenas "garimpam" melhor a molecada; mas usar mesmo da forma correta; nenhum clube aqui do Brasil faz! Falando especificamente do Palmeiras; hoje tem uma estrutura invejável; tem ótimos valores em todas as categorias de base; porém não utiliza e perde jogadores de qualidade sem que estes ao menos joguem 1 jogo no profissional. Tá erradíssimo isso; sendo que seria extremamente fácil lançar um garoto (colocando para jogar e se adaptar entrando no segundo tempo dos jogos; aos poucos). Mas os interesses no futebol falam mais alto; e tem muita coisa por trás da politicagem e da cartolagem que comandam os clubes e o futebol brasileiro como um todo. Ratifico meus parabéns pelo brilhante texto!!!

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