O futebol é um esporte muito
dinâmico – provavelmente o mais dinâmico que existe. Tudo pode estar
funcionando bem, o clube possuir um ambiente agradável, mas dar uma volta de
cento e oitenta graus instantaneamente. Basta uma derrota em um jogo importante,
uma má atuação em um clássico ou uma pressão da torcida para o clima ficar
nublado.
(Foto: Globoesporte.com) |
Esse cenário é ainda mais
evidente no futebol brasileiro. Somos movidos pelo imediatismo em todos os
setores do nosso esporte. Desde cobrar que uma nova diretoria resolva todos os
problemas do clube logo após a posse até querer que um jogador se torne o novo
Pelé assim que chega à equipe. Essa é a situação que vive o jovem meia
argentino, Lucas Mugni.
Contratado no inicio de 2013
para ser o armador do time do Flamengo, Mugni ainda não conseguiu deslanchar no
futebol brasileiro. Cercado de expectativa em sua chegada, o hermano foi alvo
da torcida por sua alternância entre bons e maus momentos desde os primeiros
jogos com a camisa rubro-negra. No último sábado, em partida contra o Friburguense,
pelo Carioca, o jogador foi visado novamente pela torcida presente no Estádio
Nilton Santos.
Em entrevista coletiva, o
técnico do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo, saiu em defesa do “enganche”,
afirmando que as vaias foram injustas. E, realmente, foram. Vimos dois times
completamente distintos nessa partida: no primeiro tempo, um time agudo, rápido
e objetivo; no segundo, um time mais cadenciado, até moroso, preservando a
vantagem construída antes do intervalo. Na primeira metade, o argentino foi
bastante participativo. Tentou buscar o jogo e se movimentar ao máximo, assim
como todo o sistema ofensivo. Verdade que aos poucos seu rendimento foi caindo
conforme outros jogadores foram se destacando, mas isso não apaga a boa
primeira parte de jogo feita pelo argentino.
Só é cobrado quem pode
entregar. E é de conhecimento geral o talento que o meia possui, demonstrado no
inicio de sua carreira. Entretanto, temos que analisar os fatores que estão
dificultando seu desenvolvimento antes de apenas criticá-lo dizendo que ele não
é um bom jogador. Primeiramente, Lucas possui apenas pouco mais de cem jogos
como profissional – cento e dezessete para precisar; chegou ao Flamengo com
apenas setenta e dois. Na Argentina os jogadores não são efetivados nos
profissionais com 17 anos, como muitas vezes ocorre por aqui. Apesar de ter
estreado com 18 anos pelo Colón, Mugni só foi presença regular na equipe dois
anos depois, em 2012. Apesar de “já” possuir 23 anos, o argentino ainda é muito
inexperiente e, consequentemente, imaturo.
(Foto: Imortaisdofutebol.com) |
Como no Flamengo Zico é a
maior referência de craque, usemos o próprio neste caso. A primeira aparição do
Galinho na equipe profissional foi em 1971 – contra o Vasco, onde ele mesmo deu
o passe para Fio Maravilha decretar a vitória rubro-negra por 2x1. Àquela
época, o futuro maior ídolo da história do clube já demonstrava todo o seu talento
e todos sabiam que se tratava de um jogador especial. Contudo, apenas em 1974
foi se firmar na equipe. A partir de então, seu futebol foi se desenvolvendo e,
anos depois, se tornou o craque que todos os flamenguistas reverenciam até
hoje. Agora eu questiono: Se até o Zico levou alguns anos para se tornar o que se
tornou, como cobrar de um garoto que não havia nem feito cem jogos quando foi
contratado, recém-chegado de outro país e com um peso enorme em suas costas se
torne um grande maestro de imediato? Para usar um exemplo mais próximo, Dario
Conca chegou ao Brasil em 2007, contratado pelo Vasco, e só se adaptou nos anos
seguintes, já atuando pelo Fluminense – e já chegou ao nosso país carregando
mais bagagem do que Mugni. Soma-se a isso a perceptível dificuldade de se
adaptar ao país e pronto, cenário perfeito para criticas ao jovem argentino.
Assim como Lucas, vimos
outros jogadores muito promissores sucumbirem à pressão exacerbada recentemente;
Adryan é, certamente, o maior exemplo limitando-nos a falar de Flamengo. Mas
essa situação não é exclusiva de um ou dois clubes, é geral. Jovens, muitas
vezes ainda garotos, são expostos à pressão de ter que entrar em campo e
resolver todos os problemas de grandes clubes, mas a coisa não funciona dessa
forma. Se o jogador não tiver tempo, uma boa estrutura ao seu redor e outros
atletas mais experientes para guiá-lo e assumir essa tensão, não irá
desenvolver seu talento em sua plenitude.
Podemos estar vendo mais um
talento enorme sendo jogado no lixo em Lucas Mugni pelo imediatismo do futebol
brasileiro. Assim como os treinadores precisam de tempo para trabalhar e
acertar suas equipes, jogadores precisam de tempo para se adaptar e se
desenvolver. Vaiar quem está dentro de campo não irá fazê-lo apresentar um
melhor futebol. Pelo contrário, só irá colocar uma pressão extra em um jovem
que já vive pressionado por vestir a camisa de um grande clube e que não tem
casca suficiente para suportar a situação sem se afetar. Aos poucos, e sem
perceber, estamos minando muitos talentos que poderiam deslanchar e se tornarem
grandes craques. Se a situação continuar do jeito que está, não teremos tão
cedo um novo jogador do nível de grandes nomes que marcaram a história do nosso
futebol.
O que estamos fazendo com os
nossos talentos?
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