Leandro Quesada, nasceu em São Paulo, no dia 27 de março de 1971, criado na Zona Leste, no bairro Ipiranga. Tem 27 anos de jornalismo, 21 deles na Rádio e TV Bandeirantes como repórter e apresentador. Deixou a Band e foi para a Fox Sports, onde é, atualmente, comentarista das partidas e dos programas da emissora.
Formado em jornalismo na faculdade UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), Quesada teve sua primeira oportunidade na área do futebol, mas já trabalhou cobrindo eleições, estradas, coberturas de verão, carnaval, entre outras coisas na Rádio e TV Bandeirantes.
Quesada aceitou conceder entrevista para a nossa editora chefe, Lígia. Acompanhem o longo bate papo que eles tiveram:
Lígia: O que te inspirou a fazer jornalismo?
Quesada: Ah, a paixão pelo futebol. Não há dúvida nenhuma. Eu como milhões de garotos brasileiros, numa época em que a gente não tinha todos esses artefatos tecnológicos. Como maior diversão era jogar bola na rua ou então jogar futebol de botão que era outra diversão que eu tive quando pequeno. Na rua ou jogando futebol de botão eu tinha uma mania de ficar narrando, como se eu fosse um narrador mesmo. Isso era um negócio engraçado porque uns colegas falavam: “Pô, chama o Leandro lá, ele narra também”, então acho que foi ali a primeira experiência que eu tive fazendo algo que algumas pessoas ao meu redor observavam. E hoje eu nunca imaginaria que eu estaria anos e anos fazendo jornalismo esportivo com milhares de pessoas acompanhando o meu trabalho. Mas, basicamente, começou com a paixão pelo esporte.
Lígia: E o que fui culminante para seguir no jornalismo esportivo?
Quesada: Então, antes de fazer jornalismo, eu fiz processamento de dados. Hoje tem um nome mais pomposo como ciência da computação. No colegial técnico eu fiz 3 anos de processamento de dados, que foi uma experiência muito bacana para ter o conhecimento do que essa tecnologia poderia influenciar as nossas vidas e, no caso do jornalismo, como essa tecnologia influenciou, que, praticamente acabou com o jornal impresso. Porque os jovens não leem jornal, mas tem na tela de um computador, smartphone, iPad, todas as informações que estão a disposição aí, com um diferencial: no jornal você só poderá ler aquilo que está no jornal, você com uma tecnologia dessa na tua mão você pode buscar a informação que quiser. E olha que coisa como isso influenciou nossas vidas e influenciou o jornalismo e como isso eu observei antes de ser jornalista. Porque eu comecei a ser jornalista quando eu entrei na faculdade de comunicação e comecei a estudar essa coisa chamada jornalismo. E durante esse período do colégio, eu botei na cabeça que eu queria ser jornalista, mas não jornalista esportivo, pra fazer tudo e aí a primeira chance que eu tive numa rádio foi justamente pra fazer futebol e acabei gostando da coisa e começaram a algumas portas se abrirem e aí virei jornalista esportivo. O mais importante é, e acho que só o jornalismo esportivo passa, estar preparado para falar sobre um determinado assunto basicamente baseado em uma cultura que você construiu de anos e anos. Será que o jornalista econômico ou político com 5 anos ele leu alguma coisa sobre economia (risos)? Com o futebol, sim, né? Eu comecei a assistir futebol com 5, 6 anos. Lembro do meu pai e o meu irmão voltando do estádio e eu chorava pra poder ir, mas eles diziam que eu não tinha idade. Então, quer dizer, que o jornalismo esportivo é diferente nesse aspecto.
Lígia: Você torce para algum time?
Quesada: Todo mundo torce para algum time. A diferença é você deixar de ser torcedor quando você começa a exercer a função de jornalista. Alguns não conseguem. Outros conseguem. E eu quero dizer para você que eu consegui. Eu posso muito bem falar que foi pênalti e não foi pênalti com a frieza necessária para deixar essa coisa da paixão de lado. E confesso a você que, com o tempo, o amor pelo futebol, pelo time seguem, mas você vai vendo que tem um outro time, têm outras pessoas tão apaixonadas quanto, existem outras histórias riquíssimas, não existem só histórias do Santos, do São Paulo, do Palmeiras, do Corinthians, do Flamengo. Quando o cara só é torcedor, Lígia, a gente até entende, né? O clube dele é a coisa mais importante, a paixão dele é a mais importante do mundo, a cor do time dele é a mais importante, o pênalti contra o time dele não foi e nunca vai ser, o pênalti é a favor do time dele é sempre mesmo quando não é. Agora, um jornalista não pode, jamais, se posicionar dessa forma. Não sou do time que acha que jornalista é obrigado a revelar time, como também não faço parte do time que acha que jornalista não tem o direito de se expressar. Isso é democrático, cada um fala o que quer. E eu como costumo dizer que sou do Juventus da Mooca, porque gosto muito do Juventus. Então respondendo diretamente a tua pergunta: Juventus da Mooca.
Lígia: Isso não influencia o seu trabalho?
Quesada: Não. Não mesmo. Eu não vou citar nomes aqui, mas tem jornalistas fantásticos aí que revelam os times. Vão falar que esses caras não tem credibilidade? Vou citar o Mauro, vai. O Mauro Beting é um cara da mais alta e extrema qualidade, credibilidade. Um cara extremamente idôneo, honesto. Ele revela, que é um direito dele. E agora, você acha que eu vou deixar de ver análise do Mauro em relação ao São Paulo, Flamengo, Corinthians e Santos, porque ele revela ser palmeirense? Jamais! Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com outra. E outros tantos que revelam os times para qual eles torcem e outros tantos que não revelam porque acham que não há necessidade de se revelar. É claro que o torcedor tem essa curiosidade. “Ah, então o cara torce para o Palmeiras, ah, então não vou ler, nem ouvir, porque ele vai pender pro lado”. Fiz vários jogos com o Mauro e lances que todo mundo achava que era pênalti ele falava que não foi. Estou citando o Mauro porque ele é meu amigo e é um cara que tem uma carreira maravilhosa e revela o time de coração dele.
Lígia: Como você consegue separar o emocional na hora dos seus comentários? Você já pendeu pro lado de algum time nas transmissões?
Quesada: O nível de concentração é tão grande no que está acontecendo que não dá tempo para fazer isso. É claro que o torcedor vai achar que tem. Você, por exemplo, acha que o Giovanni Augusto não está fazendo um grande jogo e alguém acha que ele está fazendo um grande jogo. Mas aí é que tá: eu não sou o dono da verdade. É apenas uma opinião que pode diferir da sua, distinta da sua ou não. A minha é uma, a sua é outra.
Lígia: O que você acha do trabalho do técnico Dunga? Você acha que foi um erro o Brasil ter recontratado ele após a Copa de 2010?
Quesada: É, o Dunga é um cara muito sério. Ele foi muito importante na seleção, teve uma história muito maravilhosa. Ele foi importantíssimo como jogador; como técnico a crítica que eu faço é que eu acho estranho o primeiro trabalho do Dunga ter sido a seleção do Brasil. Por mais que ele tenha sido importante como jogador, o técnico tem que ter uma experiência, é a minha visão. Inclusive, os empregos do Dunga: seleção, Internacional e agora a seleção outra vez. Porque se a gente for levar em conta o jogador, então coloca o Pelé lá que é 3 vezes campeão do mundo.
Lígia: Você acredita que a seleção brasileira tenha perdido o respeito após a derrota humilhante para a Alemanha na Copa de 2014?
Quesada: Nossa, total. Não dá nem pra gente falar muito. Eu estava no estádio e nunca tinha visto isso e acho que nunca mais vou acompanhar um negócio daquele. O Brasil perder de 7 é um negócio já absurdo; o Brasil perder de 7 em casa é absurdo 2; o Brasil perder de 7 numa Copa, em casa, é pra fechar, né? Porque assim, perder pra Alemanha não é um absurdo. A Alemanha é uma seleção histórica, eles têm 4 títulos mundiais e vão ganhar a próxima Copa se ninguém ficar de olho. Tem que tentar fazer alguma coisa para barrar a Alemanha. Como o Brasil pode ir numa Copa na Alemanha e ganhar deles lá. Mas tomar de 7, do jeito que foi?! Foi tudo feito de uma forma errada, um time de futebol profissional não toma de 7. Agora, se você for ver os jogadores que foram chamados, você não pode ir para uma Copa do Mundo sem levar Kaká e Robinho, vou citar esses dois porque se tivessem avisado antes eles teriam se preparado mais. Prende os jogadores uns 4 meses num lugar e fala: “vamos treinar aqui e ganhar essa Copa”. “Se vocês ganharem vão ter um super prêmio, ganhar uma viagem pra Marte de ida e volta com a família toda”. Você tem que criar ao redor da seleção um esquema profissional para ganhar a Copa do Mundo. Você não pode levar o Neymar para a primeira Copa e colocar todo o peso nas costas do Neymar. É muito pra ele. Na próxima já é diferente. E na história das Copas o Brasil sempre mesclou jogadores jovens com jogadores mais experimentados e aí quando a gente perde o Neymar o quê que acontece? A gente coloca o Bernard pra ser o reserva. Não é culpa do Bernard, mas ele não joga muita bola pra jogar numa seleção brasileira numa Copa do Mundo. A gente convocou mal, convocou errado. O Parreira e o Felipão fecharam o grupo depois da conquista da Copa das Confederações e acho que esse é um erro muito grande, você não pode fechar um grupo. E se aparece um grande jogador há um mês da Copa? E se a percepção do técnico for: “Pô, esse cara vai ganhar a Copa pra gente”, coisa que o Felipão teve lá atrás quando chamou o Kléberson e o Gilberto Silva e todo mundo riu. Os caras arrebentaram na Copa do Mundo, ajudaram o Brasil a ganhar a Copa. Aplausos para o Felipão, que em 2002 teve essa percepção, em 2014 não sei se ele já estava superado ou o quê que foi.
Lígia: Você acha que o futebol brasileiro está sendo nivelado por baixo?
Quesada: O campeonato brasileiro desmente isso. O Brasileirão do ano passado foi um campeonato muito bacana. Grandes jogos, eu fiz quase todos os jogos do Corinthians, do Palmeiras, do São Paulo, Santos. O Sport Recife jogou muito bem, mas sem elenco é difícil. Só tem um bom time, mas não tinha peças de reposição. Eu gostei, Lígia. Tenho visto muitos campeonatos. Eu trabalho na Fox Sports e a gente transmite vários campeonatos. A Premiere League é, disparado, o mais legal, mais equilibrado e disputado. O espanhol é maravilhoso, mas fica naquela faixa de Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid, de vez em quando pinta um outro. O campeonato alemão muito disputado também, mas Bayern de Munique e Borussia. Aqui no Brasil, guardado as devidas proporções, lembra o campeonato inglês. A qualidade eu acho que está abaixo, o inglês está acima, mas não sei quanto acima está. Porque a gente não vê um Leicester jogando contra um time brasileiro. Como a gente teve as duas disputas nos mundiais. Vamos lembrar bem disso; Liverpool e São Paulo, 2005, quem ganhou? 2012, Corinthians e Chelsea, quem ganhou? É claro que é pouco para a gente ter uma dimensão do que seria.
Lígia: Para você, qual o melhor técnico em atividade no Brasil, hoje? E por quê?
Quesada: O Tite está fazendo um grande trabalho no Corinthians. É difícil responder isso em início de temporada, mas o Tite está conseguindo remontar o time. Eu acho que não vai conseguir chegar a excelência do time do ano passado, porque o Renato Augusto é um jogador diferente, o Jádson é um jogador diferente, Ralf é um jogador que você não encontra em qualquer lugar, Elias, hoje, está fora, vai voltar, e o Vágner Love e o Malcom demoraram, mas eles conseguiram se entrosar, a reta final dos dois foi uma reta final excelente. O Tite está conseguindo remontar, você vai falar que o time do Corinthians não tem chance de ganhar a Libertadores? Tem. Mas eu acho mais difícil esse ano. Só que o futebol é tão estranho que é capaz do Corinthians esse ano ser campeão e ter perdido o ano passado que tinha o time que acabou emperrando no Guarani. Mas o futebol é assim.
Lígia: Quais times são favoritos para ganhar a Libertadores 2016?
Quesada: Ah, essa pergunta eu não vou conseguir te responder. Eu não tenho capacidade para responder essa pergunta para você. A Fox Sports é a casa oficial da Libertadores da América e a gente acompanha todos os jogos, eu estou estudando os times todos os dias. É impossível, Lígia, responder essa sua pergunta. O Atlético/MG e o Corinthians eu acho que são duas forças, o Palmeiras eu acho que tem um bom elenco, ele precisa ser melhor trabalhado, o Cuca vai ter que fazer isso. O Palmeiras, pra mim, está na briga aí. Vamos colocar 10 times favoritos para conquistar a Libertadores e você pode colocar o Palmeiras, mas eles tem uma missão bem complicada. O São Paulo têm jogadores bem melhores do que muitos outros times. O Grêmio também. O problema é passar dessa fase, na hora que começar oitavas de finais fica tudo igual. Guarani e Corinthians é o maior exemplo que a gente pode ter. O Corinthians fez uma belíssima campanha, futebol de primeira, perdeu lá, lá foi eliminado. Não adianta você fazer uma baita de uma campanha e jogar um belo futebol na primeira fase e nas seguintes ser eliminado no mata-mata.
Essa foi a entrevista da nossa editora com o grande jornalista esportivo, Leandro Quesada.
por Lígia Timão
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