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sábado, 26 de janeiro de 2019

Dagmar, uma ilustre e ETERNA ATLETICANA


Todos os domingos minha  família ia almoçar na casa da minha avó Dagmar. Eu adorava... mas não era por causa do almoço, ou por ver meus primos; o melhor vinha depois do almoço: era quando eu ia para o quartinho onde ela ficava, e ela me contava todas as histórias do GALO. Nascida em 1916, história era o que não faltava: adorava me contar do Estadinho de Lourdes, onde sempre ia; do maior ídolo dela, Guará - o maior artilheiro do clássico até hoje, com 26 gols - , e como ele arrebentava, fazendo de tudo em campo; lembro até hoje do jeito que ela falava "Menino, Reinaldo é uma maravilha... mas você tinha de ter visto Guará! Aquele loirinho era um capeta em campo! Quando jogava contra o crüzeiro então, aprontava viu... quem é Reinaldo perto dele..." ; falava da tristeza que foi quando ele se machucou e nunca mais foi o mesmo... contava sobre Mário de Castro,antes de Guará, e como ficou enlouquecida com os 9x2, onde ele, Said e Jairo só faltaram fazer chover em campo! Falava empolgada sobre Ubaldo Miranda,a loucura que era a torcida carregando-o após os jogos, a mágica dos seus "gols espíritas" feitos praticamente sem ângulo da linha de fundo; enquanto relatava, imitava com gestos as curvas que a bola fazia de uma maneira impossível, para tentar ilustrar pra mim como era incrível o que ele conseguia fazer... contava a festa que se tornou BH quando o GALO voltou da Europa, com a alcunha de "Campeões do Gelo" ,vencendo os principais campeões de lá à época; sem falar em Dadá e o título de 1971; ela dizia - do  jeito dramático que já  possuía -  que quase enfartou naquele dia, e que "só não tinha morrido porque atleticano morre de tudo, menos do coração" ! Não deixava de ler Roberto Drummond de jeito nenhum, em suas crônicas sobre o GALO. Suas leituras obrigatórias eram ele, e a parte de esportes do já extinto "Diário da Tarde" - a parte do GALO, claro. Não lia sobre outros times. Nos jogos contra o rival, fazia figa quando estavam atacando; depois,quando o GALO atacava, fazia de novo, pra defesa deles falhar! Minha tia Cota, morrendo de rir, falava com ela "Mas mãe, a senhora fez figa agora quando o time deles estava vindo, e está fazendo figa de novo, com o GALO atacando"? Ela respondia, do jeito bravo dela, com a característica que todo atleticano tem quando está concentrado em sua missão de fé ao assistir um jogo do nosso time: "Uma era pra dar azar pra eles, a outra é pra dar sorte pro GALO! Fica quieta" ! Sim, ela era brava, especialmente com coisas do GALO e com a rivalidade. Era tão "xiita", que jamais aceitou que um de seus netos ou netas namorasse alguém que torcesse para o rival. Se acontecesse esse "sacrilégio", na casa dela não entrava! Não é que não ia com camisa do outro time: Não entrava de jeito nenhum mesmo! Além do que, enquanto o namoro durasse, ela  fazia de tudo pra acabar... incluindo chantagem emocional com os  netos! Achava um absurdo!!! Era uma figura... eu delirava com "Dona Dagmar", como a chamava brincando, às vezes.

Infelizmente,em uma dessas injustiças da vida, ela  se foi no meio de 2011. Lembro que enquanto estava internada, minhas tias me contavam que "o radinho pra ouvir o GALO está com ela no hospital; não abriu mão dele de jeito nenhum"! Até que um dia, como diria Guimarães Rosa, "ficou encantada"... e partiu. Tenho certeza que está em altos papos com Guará, Mário de Castro, Kafunga, que ela também era fã (e adorava imitar seu jeito de rir batendo as mãos enormes em cima da mesa quando apresentava o programa "Papo de Bola"), Vilibaldo Alves, meu avô Hermes, que foi o grande amor de sua vida, e tantos outros atleticanos que ela acompanhou durante sua longa vida, e que  construíram a história desse time maravilhoso que todos amamos  tanto.  Não viu a Libertadores, a Recopa e a Copa do Brasil em cima "do time que detestava", como dizia. Mas uma certeza,ninguém me tira: aquela escorregada do Ferreira, na final contra o Olimpia, foi a velha Dagmar dando uma rasteira nele gritando:"Aqui NÃO!!! Sai FORA, paraguaio" ! Desceu do céu pra nos dar uma força!

 Saudades de Dona Dagmar. Não seria o atleticano que sou sem ela. Ah, mas não tenho a menor dúvida! E amanhã... amanhã tem GALO x crüzeiro. Que ela, assim como tantos outros grandes atleticanos que se foram, estejam nos iluminando lá de cima, para arrancarmos para mais uma grande vitória! Muito obriGALO por me fazer o atleticano que sou, "Dona Dagmar" ... e um Grande beijo,Vó,onde estiver!   #AÍTAMBÉMÉGALO !

Por: Renato Mello


A MAIOR ATLETICANA QUE JÁ CONHECI!
Agradecimento à minha prima Mary pelo envio da foto... valeu, prima! 

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