O
sonho de ser jogador talvez pelo status, fama, dinheiro, proporcionar uma vida
melhor para a família, ou pelo fato de amar futebol faz milhares de meninos
deixarem suas casas, mudar de Estados ou até mesmo de País, passarem a morar em
alojamentos com desconhecidos - talvez
futuros amigos - , precisando formar uma nova família para permanecer e fazer o
caminho ser mais fácil.
Os
desafios são imensos, um novo olhar do mundo, novo convívio, novas instalações
nem sempre adequadas, impossível não se lembrar da tragédia ocorrida neste ano
(2019) nas categorias de base do Flamengo, dez vidas perdidas, dez sonhos
cancelados, dez famílias desesperadas que viram os filhos saindo de casa na
felicidade de um começo de sonho realizado... no caminho essas famílias e esses
meninos encontraram as chamas que ruíram suas vidas e esperanças.
O
trabalho de formação desses pequenos atletas começa desde muito cedo, alguns
encaminhados por uma escolinha de futebol, outros por indicação de olheiros,
enfim... a importância das categorias de
base é enorme, e durante todo o processo de desenvolvimento desses meninos
requer muito de suas capacidades tanto motoras quanto cognitivas, físicas,
mentais e emocionais. Muitos ficam pelo caminho, talvez por falta de talento,
indicação, entre outros fatores – ou por
vezes apenas pela falta de um bom “empresário” (sim, há os bons; mas muitas
vezes apenas algumas pessoas que querem sugar tudo e mais um pouco dos sonhos
desses meninos e de suas famílias, com contratos leoninos onde apenas eles e os
clubes ganham).
Infelizmente
, o Brasil é um país onde a base não tem valor algum, e é muito maltratada.
Dirigentes só se lembram que os meninos existem na hora do aperto. Temos
diversos exemplos em nossa história, massss... a memória destes mesmos
dirigentes – que se preocupam cada dia mais em “jogar para a torcida” do que
cuidar do mais precioso investimento que qualquer clube tem, que são suas
“jóias” – convenientemente se “esquece” disso.
Foto:
Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Santos FC
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Quem
não se lembra do Santos com os “Meninos da Vila” de 2002? Diego, Robinho,
Renato, Elano... foi campeão brasileiro aquele ano, dando show com as pedaladas
de Robinho e aquele time de moleques
encantou o país! Revelou vários jogadores para a seleção brasileira! História
bonita, certo? Pois é! O que poucos sabem no entanto, é que aquele time poderia
nunca ter existido! Ocorre que o Santos não tinha dinheiro à época para contratações, e quando
Emerson Leão chegou à Vila Belmiro foi dito isso à ele. Ele deu uma olhada com
o responsável pela base (Pepe, ex
companheiro de Pelé e que cuida dos meninos como poucos fazem no país), e viu
que tinha um manancial absurdo de talento ali. E BANCOU os garotos. Nada de
sair apostando em jogadores em fim de carreira, medalhões “a prestação”, nada
disso; montou aquele timaço só com a garotada, e o time colheu os frutos. E o
que dizer do Grêmio, que desde 2016 vem novamente colecionando títulos? Ganhou
o tri da Libertadores, a Copa do Brasil, a Recopa ...mas anos antes, passando
apertos por dívidas causadas por contratações como Kléber Gladiador e outros
medalhões, o time se encontrava com dificuldades financeiras absurdas. Por
causa disso – mais uma vez o aperto foi o fator determinante - , subiram vários
jogadores talentosíssimos, como Ramiro, Arthur, Luan... e no caso do Grêmio
parecem ter aprendido – hoje em dia tem o talentoso Éverton “Cebolinha” como
exemplo, lançado há pouco tempo - .
Infelizmente,
há times que ainda insistem em viver na “contramão”; o caso do Palmeiras é o
mais gritante: com um patrocínio milionário, segue comprando jogadores
estrelados o tempo todo; consequentemente, não há espaço suficiente para seus
jogadores jovens! A última revelação foi Rafael Papagaio, que, sem espaço/
chances no time profissional, não permaneceu no clube, tendo sido emprestado ao
GALO. Hoje em dia, amarga o posto de 2º reserva de Ricardo Oliveira. E isso,
mesmo sendo atacante da seleção sub-20! Cabe perfeitamente perguntar: Gabriel
Jesus, atacante do Manchester City e da seleção brasileira, campeão pelo
Palmeiras do brasileiro/2016, que encantou os olhos do técnico Pep Guardiola a
ponto do clube inglês gastar uma pequena fortuna para levá-lo para a
Inglaterra: teria conseguido chances no alviverde paulista se o clube JÁ
estivesse estável financeiramente como hoje? Ou seria mais um Rafael Papagaio?
Ainda
temos o caso do Atlético: O GALO tem em sua base muitos bons jogadores, como
Bruninho (observado por pelo menos 5 grandes clubes europeus); o centroavante
Alerrandro (vice artilheiro do Campeonato Mineiro deste ano, também já com
sondagens de times de fora), entre outros. No entanto, não recebem chances. E
no caso do GALO, ainda há o problema da torcida, que insiste em “queimar”
jogadores de base pela falta de paciência (o que acaba “legitimando” a postura
das diretorias e comissões técnicas em não colocar os garotos) – ok, isso
também ocorre em outros clubes, mas no caso do Atlético chega a ser gritante.
Empresários simplesmente tentam “arrancar” jogadores do clube de qualquer
jeito, tentam impedir renovações de contrato, pois sabem que a pior fase para
seus agenciados é justamente quando estão no sub-20: a dificuldade de
conseguirem um lugar na equipe principal é absurda. A possibilidade maior é
serem emprestados “Ad infinitum” para clubes menores do Brasil.
Ainda,
uma outra curiosidade: na atualidade
está cada vez mais difícil um clube ter 100% de jogadores formados por
suas categorias de base, talvez o clube mais próximo dessa estatística seja o
Manchester City com um grande investimento para criar o maior centro de
treinamento de categorias de base na Europa com projeto em longo prazo segundo
o seu Presidente (Khaldoon Al Mibarak) tendo o objetivo de o clube se tornar
formador e não mais comprador nas próximas décadas, recrutando jovens jogadores
pelo mundo.
No
Brasil, muitos clubes não conseguem ter
o percentual total dos jogadores que
formam, pois estes servem de garantia às enormes dívidas contraídas pelas
instituições de futebol. É muito comum em um clube, este pegar dinheiro
emprestado e dar como garantia uma percentagem dos direitos econômicos de
jovens da sua base no caso de uma venda futura. Em muitos casos, o credor
possui mais dos direitos econômicos do que o próprio clube.
Os
sonhos desses garotos acabam por ser pressionados quando a cultura é avaliar o
que vemos no jogo, só o resultado, a torcida cobra por eles e a transição de
jogadores está sempre em movimento, sendo mais fácil agradar com nomes
reconhecidos no mercado; como já exemplificamos acima, a categoria de base do
clube tende a ser mais lembrada quando o clube está em dificuldade financeira e
não pode assim comprar jogadores de renome; porém vale lembrar que esta
dificuldade financeira também se estabelece nas categorias de base, já que
muitas vezes um atleta fica dez anos no clube e quando chega à idade de se
profissionalizar é vendido, indo para outro clube todo o investimento feito
nesse jogador – pois sai barato comparando ao que irá render tecnicamente e
inclusive em uma futura venda já na outra agremiação.
Enfim,
os obstáculos são grandes, as pedras nos caminhos desses garotos são maiores do
que pensam quando deixam seus lares em busca de um objetivo, Que o futebol
brasileiro compreenda a importância dos garotos para seus times, com maior
valorização, maior cuidado, porque
estamos lidando com sonhos, esperança, vidas, realizações, desejos e quem sabe
conquistas – para eles e para os clubes – com possibilidades de novos talentos surgirem para abrilhantarem
nosso futebol. Sem depender de gastos absurdos com jogadores que já não rendem
o devido e jogam apenas com o nome. Por favor, vamos ter mais carinho com
nossos meninos no Brasil. Eles merecem. Nosso futebol merece.
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Por:
Renato Mello e Sabrina Civolani
Twitter: @mellorenato /
@AtleticoVQTTV / @ArquibancadadoGalo
Twitter: @sagreenland
Parabéns Sabrina e Renato pelo excelente texto. Texto muito didático de como é e como funciona as categorias de base. No Brasil muito mal utilizada; onde quase sempre é usada como um plano "B"; sem o menor planejamento por parte dos dirigentes. Na minha opinião todos os times daqui usam muito mal a molecada; alguns times apenas "garimpam" melhor a molecada; mas usar mesmo da forma correta; nenhum clube aqui do Brasil faz! Falando especificamente do Palmeiras; hoje tem uma estrutura invejável; tem ótimos valores em todas as categorias de base; porém não utiliza e perde jogadores de qualidade sem que estes ao menos joguem 1 jogo no profissional. Tá erradíssimo isso; sendo que seria extremamente fácil lançar um garoto (colocando para jogar e se adaptar entrando no segundo tempo dos jogos; aos poucos). Mas os interesses no futebol falam mais alto; e tem muita coisa por trás da politicagem e da cartolagem que comandam os clubes e o futebol brasileiro como um todo. Ratifico meus parabéns pelo brilhante texto!!!
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