Breaking News

sábado, 28 de março de 2015

BAÚ DE MEMÓRIAS ALVINEGRAS

Revolvendo o baú das minhas memórias, volto ao recôndito ano de 98, quando o Galo contava com Valdir, Marques, Lincoln, Paulo Baier e Lima; um grande time, sem grandes vitórias, mas tomado pelas conquistas da raça e da imortalidade, que só o atleticano conhece e ninguém é capaz de explicar.
O velho rádio sobre a mesa na varanda anuncia o início da peleja. Willy Gonser desfia, magistralmente, todos os heróicos nomes alvinegros, como se cantasse todos os milagres das quatro linhas. A torcida, quase toda ela com o radinho colado à orelha, pede a todos os santos para que não lhes falte o coração, para que lhes reforcem a garganta, e, finalmente, para que o sofrimento lhes seja suportável.

A charanga puxa um sambinha qualquer, até que se chegue ao majestoso hino do glorioso, solenemente cantado por todos, como se entoassem uma compenetrada oração, um imprescindível mantra rumo à vitória. Um rapazote, despido do manto sagrado, que agora balança sobre sua cabeça, mastreada pelos seus braços finos, rege toda a massa, como se fosse o maior maestro do mundo.

Nos céus, lentamente, o sol se esconde por detrás de grossas nuvens acinzentadas. Uma chuva fria começa a cair, lavando a alma alvinegra, reavivando a raça atleticana. O campo molhado mais parece um campo de batalha, a espera dos imortais guerreiros, irmãos de sangue, prontos a lutar pelo seu povo, sua massa imensa e apaixonada.

De repente, o silêncio toma conta do gigante. Apenas a chuva dá o ar da sua graça, como que numa eterna sinfonia orquestrada pelos deuses do futebol. E eis que o Galo entra em campo, numa explosão de vozes, de aplausos e emoções. O juiz apita freneticamente o seu apito; Willy narra o espetáculo, como se narrasse a maior de todas as batalhas campais.

Enquanto isso, a assustada criança, deitada na enorme bacia de roupas, vê o tio, que corre para lá e para cá, no quintal de terra batida, gritando gritos de guerra, chutando bola de meia e sonhando os títulos, as glórias, a emoção de ser alvinegro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário