Duvido o torcedor que não tenha uma história louca e inacreditável envolvendo seu clube do coração. Semana passada, mais uma história entrou pra lista: Uma verdadeira Aventura Colorada na Ilha da Magia!
Eu e mais dois brothers, Rafa e Lê, resolvemos ir para Floripa ver o jogo do nosso Colorado. Sim, algumas pessoas falaram: "bah, vais gastar dinheiro, ir até lá por causa de um jogo". Pobres pessoas que pensam que é só futebol; que é apenas um jogo.
Torcer ou ter um clube que gostas é normal, praticamente todo mundo têm. Mas amar um clube e viver/respirar ele, bom, é diferente. Tu não ligas se passará frio, calor, sol, chuva; se ficará sem dormir; se ele está numa fase ruim; tu simplesmente o acompanha - independente do jogo ou da situação que ele se encontra. Aliás, quando me pedem o que é amor, sempre respondo: Sport Club Internacional. Se é possível explicar o amor, com certeza é o que um torcedor sente e vive- e creio que toda pessoa que ama de verdade algum clube, concorda comigo.
Mas voltando à viagem, tivemos a "brilhante" ideia de irmos com um Opala. Para quem não sabe: Opala é um carro clássico e que marcou uma geração. Mas este Opala já estava bem detonado, sem condições de uma viagem assim - mesmo sendo só 7 horas. Mas só tínhamos ele à disposição nessa semana - então: foi o Opalão mesmo.
Ok, saímos logo na quarta à noite para chegarmos bem antes do início da partida. Tudo ocorria bem, íamos escutando o CD do Ataque Colorado - pra já entrar no clima da partida, e já estávamos na metade do trajeto: Lajes - SC. Até que, de repente, o carro começa dar uns socos e lentamente vai desacelerando e parando. Não entendo absolutamente nada sobre carros, mas creio que o motor disse: "Adeus, até mais, galera". Por sorte, estávamos em Lajes e tinha um posto bem próximo, com muito esforço deu pra chegar e deixar o carro por ali. Teoricamente, a preocupação seria o carro detonado... mas para nós: chegar em Floripa de qualquer maneira para ver o jogo. Não importava se era só uma rodada do Brasileirão, a missão de ver o Colorado precisava ser cumprida. Era madrugada, e a gente precisava de uma carona, mas ninguém tinha 3 lugares livres no carro ou caminhão. Até que depois de 2 horas, uma mulher, sozinha, chega no posto e compra algumas bebidas (nunca aceitem carona de uma pessoa que está bebendo. Nunca!). Sim, não era a melhor pessoa para uma carona; a cara dela, mesmo sendo bonita, era de uma pessoa nervosa e com muita raiva. Mas estava sozinha - então, depois de uma reunião de 3 minutos, decidimos pedir se ela ia para Floripa - a placa do carro era de lá. Para nossa sorte (nem tanto), ela ia e nos deu carona - milagre uma mulher dar carona para 3 caras, ainda mais naquele horário - só podia ser piradinha mesmo.
A mulher acelerava nas curvas, ultrapassava os outros sem qualquer cautela, andava sempre pra cima dos 110 km e ficava falando de seu marido - que não prestava, que queria matar ele e tudo aquilo que uma pessoa com raiva de alguém que gosta fala. Achei que meu fim estava próximo. Também achei que ali seria o pior - mas, não, o pior ainda viria... Depois de chegarmos (não sei como) vivos em Floripa. Ela nos convidou pra tomar um café da manhã em sua casa, e como estávamos famintos: aceitamos. Mas quando a gente tava quase dando no pé de lá, o marido que ela ficou falando tanto no carro chega, e chega com uma cara que não estava demonstrando "adorei vocês aqui, querem uma sobremesa?". E pra "ajudar", o louco parecia um lutador de UFC, mas não de uma categoria mosca, era de peso pesado - literalmente. Logo ele foi pedindo quem era a gente - e com os punhos fechados; e a maluca, digo: mulher, colocava pilha e falava que preferia a gente que o tomador de Whey Protein - resultado: maluco foi pra cima de nós igual um boi atrás do toureiro. Baixamos um Nilmar da vida e corremos num nível que até o Usain Bolt bateria palmas. Por sorte, tinha uma mata por ali e foi nela mesmo que se escondemos e despistamos o touro - digo: homem.
Bom, passado isto, já era meio-dia e a gente tava morrendo de fome. Seguimos uma trilha que levou uma hora e fomos almoçar. Mas na hora de pegarmos as carteiras: PUTA QUE PARIU, CADÊ A MOCHILA? Sim, na ânsia de pegar aquela carona, deixamos a mochila com nosso dinheiro dentro do Opala. EM LAJES! Só restava a grana que tínhamos no bolso, que não era muita coisa, mas dava pra comprar os ingressos pro jogo.
Comer ou ver o jogo? Acho que toda pessoa que sabe que: não é só futebol, já sabe a resposta... Não pensamos nem duas vezes, ficamos dividindo um pacotinho de bolacha (sim, foi o que deu) e fomos ver o Inter jogar contra o Figueira.
Sobre o jogo: os dois times fizeram uma péssima partida. Sem falar no Vento Sul, que mudava a trajetória da bola o tempo inteiro. Ambos times desfalcados, o que fez o Figueira: sempre ofensivo em casa, pouco fazer; e o Inter, mesmo com um grande elenco, quase não levar perigo ao gol alvinegro. Aí, aquelas mesmas pessoas que pensam que é só futebol, que o que vale é só vencer, devem dizer: "nossa, tudo isso pra ver um 0x0 sem graça". Pensamento pequeno. Apesar de tudo, a gente tava feliz. Não pelo jogo e o resultado, claro, queríamos muito a vitória, mas estávamos feliz por ter ido ver aquele jogo, mesmo depois de tudo que aconteceu. A missão estava concretizada, superamos os obstáculos e estivemos no lado do nosso clube.
E assim que é o amor: independente da situação, estamos juntos - e nos piores momentos é que fortalece. É simplesmente gostar, se sentir bem ao lado, mesmo quando este amor não consegue te dar dias gloriosos. Entender que pra tudo existe fases, e estar presente em todas fases é que te faz amar de verdade.
Voltando do Orlando Scarpelli e sem dinheiro, só tinha um jeito de sobreviver ali: (até porque tava frio e ventava pra caramba) tocar em um barzinho da Ilha - como já morei em Floripa e conheço a cidade, sabia que daria certo. Mas como o estádio fica no Estreito - onde é continente, tivemos que caminhar muito, mas muito pra chegar na ilha. Depois de chegar, falei com o dono de um bar, e combinamos de tocar por duas noites lá. Ele tinha dois violões e nos deu: pronto, já era o suficiente pra fazer um som e conseguir uma grana. Por duas noites tocamos em Floripa e juntamos grana pra ir até Lajes. Chegando lá, por sorte, a mochila estava dentro do Opala (talvez por estar detonado, ninguém mexeu) e com o dinheiro lá.
Voltamos com um caminhoneiro que viria pros lados de Passo Fundo. Chegamos no domingo: vivos!
Arrependimento? Nenhum. O que aprendi? Muitas coisas. Valeu a pena tudo? Com certeza, esta história ficará registrada pra sempre na nossa memória. E não importa o que tiver que passar, o sentimento pelo Inter sempre será mais forte e vencerá qualquer barreira. Que venha mais aventuras pela frente! (mas nada de ir de Opala desta vez rs)
Patrick Aguirre
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