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terça-feira, 8 de março de 2016

Carta aberta à direção do Sport Club Internacional

Nesse dia especial, cedo meu espaço para Isadora Laguna, torcedora colorada, e sua carta aberta à direção colorada em repúdio a campanha em alusão ao dia internacional da mulher:

Hoje, dia 8 de Março de 2016, é o Dia Internacional da Mulher, dia reconhecido em 1975 pela ONU para dar visibilidade à luta das mulheres por igualdade de direitos. A ideia de haver um dia que reconheça essa luta surgiu no final do Século XIX, quando na Europa e nos Estados Unidos, iniciou-se a discussão pelas condições de trabalho das mulheres: eram cerca de 15 horas de trabalhos diários, por uma remuneração ínfima. Em 1909, milhares de mulheres saíram às ruas para reivindicar melhores salários e redução da jornada de trabalho, iniciando uma greve na indústria têxtil. Todas essas reivindicações foram ignoradas, e três anos mais tarde, em 25 de março de 1911, houve um incêndio em uma fábrica de tecidos, em Nova York, e cerca de 130 mulheres morreram carbonizadas.
 
Imagem: Marketing Internacional
Poucos anos mais tarde, na Rússia, ocorreu a Greve das Tecelãs. Essas mulheres reivindicavam as más condições de trabalho, de alimentação e os incontáveis soldados mortos na I Guerra Mundial: esse acontecimento desencadeou a Revolução Russa e marcou o dia 8 de março como o Dia Internacional das Mulheres. Cabe ressaltar aqui que essa luta era das mulheres brancas, as mulheres negras, em meio a isso tudo, sequer eram reconhecidas como gente.
Trazendo ainda mais para nossa realidade, à mulher brasileira só foi estabelecido constitucionalmente o direito de votar e de ser votada em 1946, quando a minha avó tinha 4 anos. Somente em 1962, quando minha mãe tinha um ano de idade, foi definido que as mulheres não precisavam autorização do pai ou do marido para trabalhar fora. Em 2002, quando eu tinha 11 anos, a não-virgindade deixou de ser motivo para a anulação do matrimônio.
Segundo a Secretaria de Políticas para as mulheres, de janeiro a outubro de 2015 foram registradas 63.090 denúncias de violência contra a mulher: essas são as denúncias registradas, o que significa 1 agressão a cada 7 minutos, imaginem qual seria a frequência caso colocássemos aqui o número de agressões que não são denunciadas. Em 2014, segundo o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram 47.646 estupros registrados: 1 estupro a cada 11 minutos. 
Por que dizer tudo isso? Porque essas são as causas pelas quais as mulheres lutam. Por todas essas lutas, eu posso estudar, posso trabalhar, posso ir para o Beira Rio sem meu pai. Minha conquista é ter a liberdade para lutar por todas as causas que ainda não estão ganhas, é poder lutar para que não haja mais disparidade salarial entre gêneros, é poder lutar para que algum dia uma mulher assuma a presidência do Inter, é poder lutar para que minha filha possa andar na rua sem medo de ser estuprada, sem ser assediada. Minha maior conquista não é ser admirada pelo meu clube, como as sócias receberam por e-mail: MESMO DEPOIS DE TANTOS TÍTULOS, A MAIOR CONQUISTA DELAS CONTINUA SENDO A NOSSA ADMIRAÇÃO. Minha conquista de hoje é poder dizer para o clube do meu coração que minha maior conquista é poder falar!
O Inter, no ano passado, aderiu à campanha Eles por Elas, da ONU, e me pergunto até quando essa campanha será apenas uma foto dos jogadores segurando um cartaz. O clube está conscientizando seus torcedores, dirigentes e jogadores sobre a responsabilidade que têm na erradicação da violência contra a mulher e na luta por equidade de gêneros? Qual a imagem que a torcedora colorada tem para o clube? A de enfeitar estádios, a de ser uma conquista do clube ou a de torcedora do Internacional como qualquer homem?
O nosso clube nasceu de uma discriminação, e é exatamente por esse engajamento que é vez de lutar contra a discriminação de gênero. Nós, mulheres, não estamos no estádio para bonito, para sermos musas de campeonato, para babar pelos jogadores, se estamos no Gigante, é pelo time, é pelo futebol e isso precisa ser respeitado. Não sejam o clube que parabeniza a mulher por ser mulher, por ser admirada, por ser bonita, por enfeitar o estádio: sejam o clube que nos ouve, que quebra os paradigmas, que dá à mulher o lugar de torcedora, que conscientiza os homens para o fim dessa desigualdade, que AGE em prol dessa causa. OUÇAM SUAS TORCEDORAS ENQUANTO MULHERES!
Att.
Sócia Colorada

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