Nesse dia especial, cedo meu espaço para Isadora Laguna, torcedora colorada, e sua carta aberta à direção colorada em repúdio a campanha em alusão ao dia internacional da mulher:
Hoje, dia 8 de Março de 2016, é o Dia Internacional da Mulher, dia
reconhecido em 1975 pela ONU para dar visibilidade à luta das mulheres
por igualdade de direitos. A ideia de haver um dia que reconheça essa
luta surgiu no final do Século XIX, quando na Europa e nos Estados
Unidos, iniciou-se a discussão pelas condições de trabalho das mulheres:
eram cerca de 15 horas de trabalhos diários, por uma remuneração
ínfima. Em 1909, milhares de mulheres saíram às ruas para reivindicar
melhores salários e redução da jornada de trabalho, iniciando uma greve
na indústria têxtil. Todas essas reivindicações foram ignoradas, e três
anos mais tarde, em 25 de março de 1911, houve um incêndio em uma
fábrica de tecidos, em Nova York, e cerca de 130 mulheres morreram
carbonizadas.
Poucos anos mais tarde, na Rússia, ocorreu a Greve
das Tecelãs. Essas mulheres reivindicavam as más condições de trabalho,
de alimentação e os incontáveis soldados mortos na I Guerra Mundial:
esse acontecimento desencadeou a Revolução Russa e marcou o dia 8 de
março como o Dia Internacional das Mulheres. Cabe ressaltar aqui que
essa luta era das mulheres brancas, as mulheres negras, em meio a isso
tudo, sequer eram reconhecidas como gente.
Trazendo ainda mais
para nossa realidade, à mulher brasileira só foi estabelecido
constitucionalmente o direito de votar e de ser votada em 1946, quando a
minha avó tinha 4 anos. Somente em 1962, quando minha mãe tinha um ano
de idade, foi definido que as mulheres não precisavam autorização do pai
ou do marido para trabalhar fora. Em 2002, quando eu tinha 11 anos, a
não-virgindade deixou de ser motivo para a anulação do matrimônio.
Segundo a Secretaria de Políticas para as mulheres, de janeiro a
outubro de 2015 foram registradas 63.090 denúncias de violência contra a
mulher: essas são as denúncias registradas, o que significa 1 agressão a
cada 7 minutos, imaginem qual seria a frequência caso colocássemos aqui
o número de agressões que não são denunciadas. Em 2014, segundo o 9º
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram 47.646 estupros
registrados: 1 estupro a cada 11 minutos.
Por que dizer tudo
isso? Porque essas são as causas pelas quais as mulheres lutam. Por
todas essas lutas, eu posso estudar, posso trabalhar, posso ir para o
Beira Rio sem meu pai. Minha conquista é ter a liberdade para lutar por
todas as causas que ainda não estão ganhas, é poder lutar para que não
haja mais disparidade salarial entre gêneros, é poder lutar para que
algum dia uma mulher assuma a presidência do Inter, é poder lutar para
que minha filha possa andar na rua sem medo de ser estuprada, sem ser
assediada. Minha maior conquista não é ser admirada pelo meu clube, como
as sócias receberam por e-mail: MESMO DEPOIS DE TANTOS TÍTULOS, A MAIOR
CONQUISTA DELAS CONTINUA SENDO A NOSSA ADMIRAÇÃO. Minha conquista de
hoje é poder dizer para o clube do meu coração que minha maior conquista
é poder falar!
O Inter, no ano passado, aderiu à campanha Eles
por Elas, da ONU, e me pergunto até quando essa campanha será apenas uma
foto dos jogadores segurando um cartaz. O clube está conscientizando
seus torcedores, dirigentes e jogadores sobre a responsabilidade que têm
na erradicação da violência contra a mulher e na luta por equidade de
gêneros? Qual a imagem que a torcedora colorada tem para o clube? A de
enfeitar estádios, a de ser uma conquista do clube ou a de torcedora do
Internacional como qualquer homem?
O nosso clube nasceu de uma
discriminação, e é exatamente por esse engajamento que é vez de lutar
contra a discriminação de gênero. Nós, mulheres, não estamos no estádio
para bonito, para sermos musas de campeonato, para babar pelos
jogadores, se estamos no Gigante, é pelo time, é pelo futebol e isso
precisa ser respeitado. Não sejam o clube que parabeniza a mulher por
ser mulher, por ser admirada, por ser bonita, por enfeitar o estádio:
sejam o clube que nos ouve, que quebra os paradigmas, que dá à mulher o
lugar de torcedora, que conscientiza os homens para o fim dessa
desigualdade, que AGE em prol dessa causa. OUÇAM SUAS TORCEDORAS
ENQUANTO MULHERES!
Att.
Sócia Colorada
Sócia Colorada
Escrito por Isadora Laguna Soares
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